PARTE FINAL – 07/09
Uma das coisas que mais chamou a atenção do grupo nessa viagem, que para a maioria foi a primeira viagem interestadual, foram as “surpresas” que uma “aventura” de moto está sujeita. Apesar do nosso até profundo planejamento, fomos pegos desprevenidos em vários momentos.
Porém, nosso retorno seria diferente dos dois primeiros dias. O trajeto que faríamos de Joinville-SC para Taboão da Serra – SP era bem conhecido por todos. Aos menos de carro, todos nós já havíamos passado por esse roteiro que é bem obvio, BR101 e BR116 direto até São Paulo.
Foi com essa expectativa que fomos dormir no dia anterior, já com tudo mais ou menos organizado para agilizar nossa saída de manhã.
Logo após nos levantarmos, fomos tomar o café da manhã e já notamos os “protocolos” de enfrentamento à pandemia nos “afetando” e nos fazendo lembrar que tínhamos que nos cuidar. Álcool em gel, distanciamento social, bandejas com porções lacradas deixaram aquele café da manhã meio que sem graça, ao menos para mim. Mas enfim, melhor assim do que ficar exposto a esse vírus.
Após o café e check-out, fomos terminar de arrumar a bagagem e também fazer uma inspeção nas motos. Confere a tensão da corrente, lubrifica a relação e o Lorenzo tira uma “onda” com a nossa cara, porque com a HD883 não tem nada disso, a transmissão é por correia.
Depois de várias piadas e com tudo pronto a BMW GS650 do Saulo começou a falhar e morrer e a não segurar a partida. Estava bem frio naquela manhã.
Na hora, nos lembramos da gasolina ruim que abastecemos em Antonina – PR, demos uma conferida na gasolina do tanque da GS, estava quase vazio e resolvemos colocar um pouco de gasolina “melhor”. Mas como fazer isso sem uma mangueira, recipiente adequado e de qual moto a gente iria tirar o combustível?
Saímos procurando meio que ao léu alguma coisa que pudesse ajudar e não é que achamos! Logo apareceu uma mangueira e uma garrafa pet. Em seguida o Fernando da Suzuki Intruder 250 puxou uma mangueirinha debaixo do tanque da moto dele e pegamos uns 2 litros de gasolina que passamos para o tanque da GS650. Mas infelizmente, não foi o suficiente. Provavelmente, devido à insistência de dar a partida, acabou por esgotar a bateria.
Pensamos um pouco e a decisão foi ir empurrando a GS650 alguns bons metros até um posto de combustível e acionar o seguro para uma assistência. Nessa já estava indo mais de uma hora de atraso do previsto para a nossa saída de Joinville. Para quem achava que não teríamos surpresas, nós começamos o dia muito bem (rs).
Nesse interim, enquanto a GS650 aguardava a assistência eu resolvi ir visitar um casal de primos que moram bem próximos de onde estávamos. Eu não queria incomodá-los, mas pelas nossas conversas via WhatsApp, eles faziam questão da nossa visita.
Fui eu e o Ismael da Ducati debaixo de uma garoa rodar algumas quadras até o endereço do meu primo. Chegamos lá e foi aquela alegria de rever meus familiares e apresentá-los aos meus amigos. Meu primo também é motociclista. Ele tem uma Intruder 125 que parece que saiu da loja “ontem” de tão linda. Algum tempo depois as outras 3 motos se juntaram a nós já com o “problema” da GS650 resolvido.
Depois de muita conversa, puxei a fila para nos despedirmos. Minha prima mandou um presente para a minha esposa. Já estávamos com os motores ligados para sair e minha prima teve a ideia de nos fotografar.
Mesmos com garoa, posicionamos as motos e meu primo registrou esse momento com uma câmera de qualidade. Para nós foi mais um presente que ganhamos nessa viagem. Algumas fotos de “qualidade”.
Após a “sessão de fotos” nos despedimos de vez daqueles queridos e finalmente pegamos estrada já quase no meio do dia.
Saímos de Joinville – SC debaixo de chuva. Por conta do feriado a estrada estava lotada, tanto de carro como de caminhão. Eu continuei à frente do grupo, dando o ritmo com a Himalayan. Como estávamos num grupo pequeno e com motos diferentes, percebemos que andar em formação não é algo funcional para nós. Assim, nosso deslocamento por todo o percurso, foi feito juntos, mas não em uma formação fixa.
Esse tipo de deslocamento foi algo que aconteceu naturalmente. Então cada piloto pode explorar a sua moto, ao seu modo e no seu ritmo. E nessa pude validar o ótimo conjunto que a Royal Enfield Himalayan é. Consegui manter uma média de velocidade segura, num ritmo compatível para as características do nosso grupo e ainda sobrava “fôlego” para fazer ultrapassagens ou escapar de algum motorista desatento.
Tocamos forte até Curitiba – PR. O clima no PR já era outro do de SC. Saímos com frio e chuva e pouco mais de 150km já estávamos com calor, sol e tempo limpo.
Eu havia planejado nossa parada para almoço em Campina Grande do Sul – PR, após mais ou menos 170km de deslocamento. Porém, pelo ritmo forte que viemos a Intruder 250 “bebeu” mais e por muito pouco não teve uma pane seca. Demos sorte, o Fernando notou a situação e entrou num posto. Eu e o Ismael da Ducati passamos direto e alguns km depois, notamos que as 3 motos ficaram para trás. Arrumamos um local seguro e paramos na estrada para esperar os companheiros.
Alguns minutos depois eles chegaram e fizemos a primeira parada para o almoço. Estávamos todos ansiosos para chegar em casa. Isso já era 14hs e ainda faltavam mais 400km de estrada.
Depois do almoço e abastecimento das motos seguimos em viagem. Havia muito caminhão e neblina naquela serra na divisa do PR com SP. Estava difícil enxergar os meus amigos pelo retrovisor devido a quantidade de curvas e necessidade de atenção na estrada.
Alguns poucos quilômetros para frente o Ismael da Ducati me sinalizou que as motos ficaram para trás. Paramos em uma área apropriada. Aquele trecho não permite o retorno por ser pista única e separada da pista de sentido contrário. Estávamos sem sinal de celular e ficamos muito preocupados, pois, a serra que estávamos passando era perigosa e estava movimentada.
Após alguns “longos” minutos, para o nosso alívio eles apareceram na estrada e descobrimos que o Lorenzo da HD883 teve que parar para “tirar água do joelho” mesmo tendo parado algum tempo atrás. Graças a Deus estava tudo bem e foi mais um motivo de piada para o grupo.
Retomamos nossa viagem rumo a Taboão da Serra – SP. Falei com o grupo que eu não estava disposto a subir a Serra do Cafezal à noite e que deveríamos manter o ritmo, pois, havia condições de passar por ela ainda de dia. Porém, como em toda a viagem, tivemos mais uma surpresa pelo caminho. Trânsito!
Na verdade, faltando 280km para chegar no nosso destino a BR116 estava toda parada. Aquilo para mim foi frustrante. Já havíamos pego aquele tipo de trânsito naquela região e sabíamos que poderíamos ficar ali parados por 6hs a 8hs como já ficamos algumas vezes de carro.
Conversamos rapidamente e a decisão foi continuar o descolamento pelo corredor mesmo. Aqueles que podiam ligaram o pisca alerta das motos, acionamos as buzinas e iniciamos o deslocamento.
Eu estava preocupado dos baús laterais da Himalayan esbarrarem em alguma coisa, pois alguns pontos os corredores eram estreitos, então, a Ducati assumiu a frente do grupo, seguido da GS, que também estava com alforges laterais, e eu fiquei mais tranquilo, pois, se a GS passava a Himalayan passava também.
Estávamos vindo bem. Algumas outras motocicletas se juntaram a nós para sair daquele enrosco. Num determinado ponto os veículos começaram a avançar, mas bem lentamente, dificultando ainda mais nossos deslocamento pelo corredor. Notei que quando isso acontecia o Lorenzo da HD883 enchia o motor e com o barulho do escapamento os carros abriam o corredor para nós. Deixei-o passar por mim e foi muito interessante notar o “respeito” que uma moto pode impor numa situação de trânsito caótico.
Quando chegamos no pedágio da cidade de Registro, faltando 160km para chegar em casa, descobrimos que a Intruder 250 não teria autonomia para chegar ao posto mais próximo que havia no mesmo sentido que estávamos. Ainda bem que perguntamos no pedágio. Fomos orientados a avançar 6km e depois retornar sentido Curitiba – PR, pois, esse seria o posto mais próximo para nós.
Fizemos o retorno e abastecemos as motos novamente… continuamos mais uns 2km sentido Curitiba-PR e antes do pedágio que nos deu a informação, retornamos sentido São Paulo novamente.
Daquele momento em diante, a gente queria chegar em casa. Apesar do trânsito e de já estar escuro “tocamos forte”, mas respeitando os limites da pista, das motos e nosso também. Afinal, já estávamos a pelo menos 8 horas de deslocamento.
No decorrer do trajeto não mudou muita coisa. Os pedágios estavam lotados e confusos. A Serra do Cafezal estava carregada e lenta e depois de mais de 11 horas na moto chegamos no nosso destino.
Ainda fizemos uma última parada numa padaria em Embu das Artes – SP, ponto mais em comum para nós, porque depois seria cada um para o seu lado. Foi uma rápida despedida. Apenas para celebrar o objetivo atingido juntos com sucesso e segurança.
Nós acreditamos que para estar em cima de uma moto, nós precisamos ter uma “causa”. Cada motociclista deve ter suas motivações para rodar por aí. Não importa a distância, o roteiro ou a marca da moto. O que importa de verdade são as nossas motivações para rodar.
No nosso caso a ideia dessa viagem de 3 dias, 3 estados e muitos km no hodômetro tinham diferentes motivações. Realizar um sonho de infância, romper a barreira do medo e avançar para um novo nível de aprendizado, afinar amizades, fazer novas amizades, ser útil na vida de alguém que por ventura cruzasse o nosso caminho, mas acima de tudo, todos nós queríamos voltar “melhores” do que saímos. Todos nós queríamos voltar “melhores” para as nossas vidas, famílias, trabalho.
Não poderíamos terminar essa história sem registrar nossos agradecimentos.
Agradecemos a Deus, o Autor da Vida e que sob a Sua vontade estão todas as coisas. Temos convicção que tudo que experimentamos nessa viagem foi por conta do cuidado d`Ele para conosco.
Agradecemos nossas famílias, esposas, filhos, amigos próximos que ficaram em casa apreensivos, mas também nos apoiaram nessa empreitada. Que coisa boa foi voltar para casa depois desses 3 dias!
Agradecemos aos amigos motociclistas de perto e de longe que nos acompanharam pelos grupos de WhatsApp e redes sociais. Destaco o incentivo que recebemos do grupo Himalayans_BR e Royal Rider´s. Vocês são do “power” rider´s!
Não poderíamos deixar de agradecer de forma direta duas pessoas que têm feito muito para o motociclismo brasileiro.
O primeiro é o Flavio Bressan do Estradas Amazônicas, que tem compartilhado de forma generosa e imparcial toda a sua experiência no motociclismo para quem quiser. Pode ter certeza Bressan que te “acompanhar” por aí nos encheu de motivação para tirar nosso projeto do papel. Muito obrigado!
O segundo é o Carlos Amaral, instrutor de motociclismo que tem dedicado a sua vida para que nós pilotos desfrutemos de uma viagem segura. Saiba Amaral, que participar das suas palestras pela Porto Seguro e depois participar do seu curso foi determinante para que muitos do nosso grupo migrasse de vez para a moto. Saiba também que você esteve conosco em cada curva, em cada “leitura de pista” que fizemos nessa viagem, bem como nas nossas conversas. A você nosso muito obrigado por nos provar que MOTO É VIDA!
Esperamos que com essa nossa história muitos outros motociclistas possam se motivar e acreditar que é possível tirar um projeto do papel. Sempre há tempo e a estrada está logo ali.
Esperamos em breve estar na estrada novamente para escrevermos mais um capítulo dessa nossa história no motociclismo.
Adventure Trail Sobre 2 Rodas
Integrantes:
Sergio Buzelli – Royal Enfield Himalayan
Fernando Dias – Suzuki Intruder 250
Ismael Maria – Ducati Monster 797
Lorenzo Zalazar – HD 883
Saulo Moreno – BMW 650 GS