PARTE 2 – 06/09

A melhor sensação de uma viagem longa de moto é levantar de manhã com a certeza que você terá estrada para rodar depois de passar o dia anterior em cima da moto. O fato de tudo ter dado certo no primeiro dia aumenta a vontade de continuar a viagem.

Estou dizendo isso, porque durante o trajeto do primeiro dia, chegou a passar pela cabeça do Lorenzo (HD883) o seguinte pensamento: “O que eu estou fazendo aqui??”

Porém, acordamos muito animados e dispostos para o segundo dia de viagem. Fizemos um longo e muito bem servido café da manhã na Hospedaria Solar de Maria. Conversamos bastante entre a gente e com o pessoal, demos risada e caímos na estrada já com uma hora de atraso do planejado inicialmente.

Saulo, Ismael, Lorenzo, Fernando e Sergio (da esquerda p/ a direita)

Saímos de Morretes – PR rumo a Antonina e Guaraqueçaba, eu já havia estado naquele local muitos anos atrás e por mais que nem todas as motos eram trail, nós faríamos um off road bem de leve.

A estrada para Antonina é linda! Rodamos alguns quilômetros rumo ao Rio Cacatu e nos aventuramos num trecho de off road. Após alguns quilômetros paramos sobre uma ponte. De repente começamos a ouvir um barulho de moto que foi aumentando. Logo passou por nós um trilheiro local com uma CRF230 voando baixo.

Alguns minutos depois ele retornou e parou para conversar conosco. Seu nome é Renan, morador de Antonina. Gente fina, conversamos como se já nos conhecêssemos a muitos anos. Trocamos WhatsApp. Demos um livro de presente para ele e ele retribuiu o gesto de amizade abrindo a mochila e nos presenteando com um vidro da sua pimenta favorita. Que generosidade! Que coisas boas que o motociclismo nos proporciona!

Renan, trilheiro local que encontramos em Antonina -PR, nos presenteando com sua pimenta favorita

A conversa para variar estava difícil de se encerrar, mas todos nós tínhamos estrada para rodar. Nos despedimos e foi cada um para o seu lado.

A essa altura já estávamos fazendo contas para ver se a autonomia da Intruder 250 dava conta para chegar no posto mais próximo. Pelas informações que recebemos dava. Mas já cria uma certa tensão. Já era quase meio dia e estávamos ao menos uns 100km atrasados.

Durante o retorno do off road, cada qual ao seu modo experimentou a sua moto no off road. A Himalayan mesmo como os baús laterais “cresce” no off road. Quanto mais velocidade, menos eu sentia a irregularidade da estrada.

Quase na metade do caminho eu fiquei para trás de apoio à Ducati e HD e num trecho de pedras mais soltas numa leve subida a HD saiu de traseira e “comprou um lote”.

Foi um susto bem grande. Rapidamente eu e o Ismael (Ducati) fomos ajudar nosso amigo Lorenzo (HD). Ele estava com o básico de proteções que cumpriu bem o seu “papel” protegendo bem as partes mais vulneráveis. Porém, a HD teve uma avaria. O protetor do motor amassou e prendeu o pedal de freio. Pensamos alguns minutos e tomamos a decisão de tirar o pedal e desamassar o protetor.

Como a GS650 e Intruder250 estavam na frente e não saibam do ocorrido eu deixei o Ismael e Lorenzo arrumando a HD e fui avisar os outros dois do ocorrido. No caminho já encontrei o Saulo da GS retornando, pois, notou nossa demora e imaginou algum problema. Eu continuei em frente para encontrar a Intruder que estava “perigando” ficar sem combustível e o Saulo foi dar apoio às duas motos não tão adequadas para o off.

Eu encontrei o Fernando com a sua Intruder no início do asfalto e decidimos esperar as outras 3 motos ali mesmo para dar continuidade na viagem.

Não demorou muito e os 3 chegaram com tudo resolvido.

Seguimos então direto para o posto de combustível para fazer o abastecimento das motos. Nem todas precisavam de abastecimento, mas pelo horário a maioria abasteceu naquele posto sem bandeira nenhuma e pouco confiável. Mas enfim, era o que tínhamos.

Após o abastecimento partimos direto para Guaratuba, onde iriamos pegar a primeira balsa para Itapoá -SC. As estradas naquela região são ótimas e fomos tranquilos, apesar da forte garoa que pegamos por todo o deslocamento.

Na balsa de Guaratuba – PR encontramos muitos outros grupos de motociclismo. Foi uma experiencia boa estar ali naquele ritmo da balsa, pois, proporcionou um certo relaxamento e fome!

Decidimos então almoçar em Guaratuba – PR mesmo, porém, por conta da pandemia, não tínhamos muitas opções. Nos informamos com alguns locais e encontramos um restaurante e finalmente enchemos o nosso “tanque”, pois, a fome estava apertando.

Depois de mais um bom tempo de conversa sobre o deslocamento até ali retornamos para a estrada tendo como destino a balsa de Vila da Glória / São Francisco do Sul em Itapoá – SC. Esse trecho seria novidade para todos nós. Então ajustei o GPS, peguei umas dicas com um local e partimos para a estrada.

Novamente, assim como no primeiro dia, notei o GPS ajustando a rota, mas como tinha placas, fomos confirmando a direção e seguimos viagem. Subimos a serra de Guaruva – SC e descemos sentido São Francisco do Sul. Parecia que estava tudo tranquilo. Até que de repente nos deparamos com um trecho de off road. No GPS dava como via pavimentada, porém, não era.

Voltar todo o caminho era inviável, as trail´s avançaram um pouco e a decisão foi encarar aqueles quase 20km de estrada de chão.

No caminho encontramos alguns outros motociclistas avançando e isso nos indicava que teríamos condições de avançar também. Eu sabia que não teria problema de rodar por ali, pois, a Himalayan e GS são motos muito competentes no off road. Mas e as demais motos?

Pegamos um trecho muito liso, porque havia chovido na região, mas não tivemos problemas. Todas as motos passaram até com certa tranquilidade no off road, provando mais uma vez que conhecer a moto e saber pilotá-la faz toda a diferença!

Chegamos no nosso destino faltando alguns minutos para a saída da balsa. Isso já era as 17:30hs. O GPS indicava que por volta das 19hs estaríamos na pousada. Ficamos animados, porque, apesar do atraso, não chegaríamos tão tarde no nosso destino.

Porém, não sabíamos que aquela balsa para Francisco do Sul era tão demorada. A travessia levou quase uma hora!

 Quando saímos da balsa já era quase 19hs e começou a chover. A estrada era escura e meus óculos começaram a embaçar demais a ponto de eu não conseguir enxergar o GPS. Fui me adequando à dificuldade até que de repente mais um desafio. Trânsito!

No sentido que estávamos seguindo estava tudo parado. Pista única, sem corredor, escura, chuva e óculos embaçando… Não teve jeito… Parei em um local adequado, expliquei a situação para os meus amigos e o Saulo com sua GS650 assumiu a frente nesse final de deslocamento e eu fui no meio do grupo, praticamente me guiando pela lanterna traseira da HD.

Algumas motos tiveram que abastecer novamente para terminar o trajeto do segundo dia. Paramos num posto ainda na ilha de São Francisco do Sul – SC, abastecemos as motos e notamos que o consumo de combustível havia caído muito em relação ao desempenho que as motos estavam obtendo anteriormente. Isso ficou bem claro para a Himalayan e para a GS. Também foi um alerta sobre a qualidade da gasolina que abastecemos em Antonina – PR.

Após o abastecimento e um energético, pegamos a estrada rumo ao nosso destino na Pousada Schulz em Joinville – SC.

Depois de quase 11 horas de viagem nós chegamos ao nosso destino todos muito bem. A alegria era tanta que até o cansaço parecia que tinha passado. Que feito nós realizamos nesses dois primeiros dias!

Fizemos o check-in na pousada, fomos para os quartos tomar um banho e tentar achar algum lugar para jantar. Mas, a cidade estava toda fechada devido a pandemia e acabamos pedindo algo via delivery mesmo.

Depois de longos papos, fomos dormir porque no dia seguinte era o dia de retornar para os nossos lares e família e a saudade de casa já começava a acender em nós.

Adventure Trail Sobre 2 Rodas

Integrantes:

Sergio Buzelli – Royal Enfield Himalayan

Fernando Dias – Suzuki Intruder 250

Ismael Maria – Ducati Monster 797

Lorenzo Zalazar – HD 883

Saulo Moreno – BMW 650 GS