Durante o Rali dos Sertões 2019 o mundo ficou maravilhado com cenas de um desfiladeiro belíssimo no trecho do Piauí. Pesquisando rapidinho descobrimos que trata-se dos “Paredões do Viana” como é conhecido pela população local.

E já foi rota do Sertões em 2012 também. Fica próximo da cidade de BOM JESUS DA GURGUÉIA, acessível pela BR-135 toda asfaltada no Piauí. Cada vez mais motoaventureiros tem ido visitar o lugar, e como não poderia deixar de ser, a Himalayan já foi lá também conhecer essa rota!

PRIMEIRA TRAVESSIA

No Carnaval 2020, um grupo de 9 motos partiu de Brasília para realizar a rota principal, entre as cidades de Bom Jesus e Morro Cabeça no Tempo. De hima estavam Bressan, Yan, Jorge e Sid. Pouca informação disponível, alguns vídeos mostrando os vários níveis de dificuldade, mas informação útil mesmo, orientações, distâncias ou dicas, nada! No mesmo período, uma outra equipe com 8 motos partiu de Teresina para executar uma rota mais longa passando pelo Canion e depois indo para a Serra das Confusões e a Serra da Capivara. A eles se juntou Terto, Royal Rider de Serra Talhada, PE, que neste primeiro momento foi com a esposa e um veículo 4×4.

A travessia não foi moleza! Era esperado areia úmida e firme, devido ao clima de fevereiro ainda ter algumas poucas chuvas. O time de Brasília planejou atravessar em um dia apenas, percorrendo os 120Km do trecho no domingo. Entretanto a realidade foi diferente. Ainda existiam alguns trechos enlameados, mas a areia já estava seca e fofa! E longa, beeeem longa. O Canion do Viana é o fundo de um vale formado por um rio, hoje temporário. Quando para de chover, o rio some, o solo seca, a areia afofa, e o pau quebra! As 14h o time Brasília tinha percorrido apenas 60Km adentro, com muitos tombos, esforço físico e alta temperatura ambiente. Quatro já tinham desistido e retornado bem antes. Outros quatro optaram por acampar no primeiro sítio habitado que encontraram. E o nono participante já estava longe, devido a grande experiência em off-road.

Bressan deixou dicas no site do El Bando, e um trailer do primeiro dia. Confira aqui: DICAS PARA O CANION DO VIANA

Yan colocou três vídeos desta primeira travessia, que podem ser vistos no canal do Yan no youtube.

 

SEGUNDA TRAVESSIA

Em setembro/2020, Leonardo Terto integrou uma nova equipe convidado pelos amigos do Veríssimos MG, que desejavam fazer o percurso por ele divulgado. Agora Terto foi pilotando sua Himalayan. Partindo de Serra Talhada, o planejamento incluía percorrer o desfiladeiro até a placa indicativa do final do cânion, acampar e retornar para o início. Teriam uns bons 66Km de offroad pra fazer, incluindo 36 de areia, para então voltar.

O pessoal já publicou alguns vídeos! Veja o vídeo do Terto AQUI e a série de 3 vídeos do Veríssimos MG AQUI!

Segue o relato do Terto!

Aqui relato minhas lembranças dessa viagem tão significativa pra mim! Antes de tudo eu não me sentia pronto pra ir pra lá. Tive medo de ir, tive de negociar essa ida com minha esposa, e tive que negociar comigo mesmo pra me permitir ir.  Como preparativo coloquei o pneu Michelin T63 na traseira, pois o pneu original estava muito fraquinho pra terra e areia. E fui me animando, me convencendo que eu iria mesmo. Já tinha feito esse percurso de Suzuki Jimny 4×4 durante o carnaval como carro de apoio para as equipes de Brasília liderada pelo Bressan e de Teresina liderada pelo Ronaldo. As condições da estrada eram desconhecidas após tantos meses. Tudo que eu sabia era que iria tentar junto com amigos do Veríssimos MG que colocaram na cabeça essa ideia de ir pra lá. Não poderia deixar de ir sabendo das dificuldades que eles iam passar. Também não me sentia completo pois naquele primeiro momento que fiz de 4×4 tinha conseguido passar, mas não me parecia uma vitória de fato. Eu já havia me esquivado uma vez e fugir do desafio de novo seria aceitar a derrota do medo sobre mim. Da primeira vez eu tive a desculpa de não ter experiência de moto no offroad, e também queria levar minha companheira Vanessa.

Dessa vez eram meus conterrâneos do sertão que iam enfrentar a peleja, e só me vinha à mente todas as quedas e sofrimentos que o pessoal da primeira turma passou, não seria fácil mesmo. Mas seria minha chance de dar a volta por cima e superar meu medo de areia de moto. Confirmei minha ida tarde da noite anterior para os companheiros de viagem, combinamos de sair as 4 da manhã, pois tínhamos uns 700km para percorrer dentro das limitações do grupo, pois iam uma Tenéré 250 do Murilo, uma Lander do Maciel, uma Titan 150 do Maurilio e eu de Himalayan 410. Para rodar em grupo é preciso acertar algumas regras como velocidade de cruzeiro, sinalizações. Também significa estar em dia com sua moto revisada e documentação ok. Parti muito carregado por volta das 5h da madruga e tive que voltar em casa pra deixar parte da bagagem e umas botas oftroad. Percebi que seriam um volume a mais e um item que não estava acostumado a usar apesar da utilidade na terra. Ainda passei um frio danado nos primeiros 200Km até o sol se levantar, pois estava com uma roupa que pensei ser suficiente junto com as luvas pra ir em frente. Que nada, bati o queixo de tanto frio. No sertão é assim, de dia é sol de rachar, mas no alvorecer é bem frio. Finalmente estávamos na estrada, e muita coisa passava na cabeça. Conseguiremos? Mas viajar é assim, depois que começa tem uma força que move você pra frente e junta com o prazer da estrada, do motor, do vento, da liberdade, do agora sim estou sendo protagonista. Eu e minha extensão do corpo, minha RE Hima do mal, meu tratorzinho sendo posto à prova tb, e uma equipe que só agradeço por poder fazer parte.

Chegamos em Bom Jesus/PI já de noitinha, acredito que por volta das 20h. No caminho de ida passamos por 30km de estrada de terra, um atalho entre PE e PI (PE-635 e PI-459). Pista muito ruim em certos trechos entre São João do Piauí e Canto do Buriti e algumas cidadezinhas por ali depois de Marcolândia pra cortar caminho. Tudo isso foi apenas o primeiro dia da aventura! Chegamos, dormimos,  descansamos e depois do café reforçado fomos reabastecer e calibrar os pneus. Por falar nisso registro aqui os pneus usados pelos outros: Vipal TR300 na Lander, Metzeler Tourance na Tenéré250, e pneu Vipal de Titan 150 normal.
Compramos água e tocamos pra estrada. No início tudo tranquilo, depois começam os pequenos bancos de areia, tipo dando as boas vindas. Eu todo offfrod pro em pé, tirando de letra, mas logo veio o primeiro susto! Passei num trecho fofo seguido de uma ladeira, a moto desestabilizou e a sorte que acelerei. E ela, como um cabrito raceado com gato, saiu do apuro encontrando não sei como o caminho certo no meio das imperfeições da terreno da subida cai mas não cai, e as bagagens se arrumando em cima. Ufa passei, e os que vinham atrás de mim disseram: foi quase! kkk recomposto do susto seguimos e foi agora que a coisa apertou mesmo! A areia deu sua primeira rasteira bem dada, só me lembro de ser arremessado de lado como uma catapulta e fui voar longe caindo no fofo. Ainda bem não quebrei nada, só a viseira que encheu de terra e travou, eu fiquei tentado bater de lado pra ver se saía e os meninos disseram “eita se lascou tá vendo se o juízo volta pra lugar!”. Levantamos a bichona pesada e seguimos pelos cânions maravilhados pela paisagens. Sim era ali onde o cabra pede o pinico e se for frouxo faz nas calças. Ainda no modo offroad pro em pé, levei mais um tombo pra esquerda e aí reclamei! “oxi só caio pra esquerda é?” Não deu 50m cai pra direita e aprumou de vez. Fui agora muito humilde mais devagar e sentado, pezinho tateando de cada lado (não é o jeito mais elegante, mas o que dava pro momento) encontrando o ponto do acelerador se usar a embreagem, pra poupar pra uma necessidade.
Deu certo e fomos aos poucos cada um se superando e ganhando mais confiança. Gente, ninguém ali era profissional de off, todo mundo estava passando do jeito que sabia, e um ajudando o outro a levantar. No caso quem caiu mesmo só foi eu e Maurílio que foi rir de mim e levou um baque, comprando um justo terreninho nos Viana. Passamos por um rebanho de vacas brancas, a poeira subiu e estávamos no velho oeste de motos. Paramos para almoçar e já tínhamos percorrido uns 45 Km dentro dos cânions. O lugar nos pareceu muito bom, tinha uma árvore e era uma sombra protegida por dois paredões gigantes. Ficamos bestas com tudo, aquela paz, o som dos pássaros fazendo ninhos nas paredes e dando conta que ali era o território deles, nós ali pequeninos no cenário que já foi trecho do Rally dos Sertões. Após o almoço eu falei pra todos “vamos que só estamos na metade, faltam outros 45Km!” Mentira só faltavam mais 21Km, sendo 6Km pra o sítio do seu Milton, que tem uma água muito boa e nos recebeu com simpatia e generosidade típica do sertão. Ele também nos informou que só faltava 5 a 6km para a placa de fim dos cânions, a meta de nossa missão. Chegamos em seguida na tão sonhada placa que chegou de bônus mais cedo eram apenas 14hs ficamos por ali relembrando as dificuldades e comemorando tirando fotos.
Decidimos retornar para o local de almoço para acampar e no dia seguinte voltar a Bom Jesus, onde deixamos no hotel um quarto com os bauletos de dois dos meninos, pra tomar banho e seguir a primeira parte do retorno. Feito isso acampamos e foi uma noite fantástica, descansamos bem pelo menos a maioria kkk, até umas 3hs da manhã quando depois de ouvir um som que parecia um estouro de uma manada de cavalos mas era apenas um cavalo e o eco das passadas rasgando o silêncio da madrugada. Murilo da barrada deles falou tu ouviu isso Terto e eu disse ouvi e rimos ali um do outro kkkk.  Dava pra ver as estrelas entre os dois paredões e não fez frio nem calor, temperatura amena. De manhã depois da natureza chamar pra volta no mato, fomos fazer o café e arrumar tudo pra voltar, era sentimento de despedida, outras cores se percebiam nas paredes com a posição do sol. Na saída os meninos viram uma cobra. Pronto, depois que tomamos banho no hotel arrumamos tudo e seguimos para só ir almoçar na estrada, dormimos acampados um albergue perto da Serra da Capivara (mesmo nome do albergue) e do Museu da Natureza, que se encontrava fechado no horário e dia que chegamos já perto do início da noite, nesses trechos de retorno muitos retões até chegar em São Raimundo Nonato, belas paisagens e pistas boas.
Dia seguinte seguimos para Serra Talhada, desta vez por outra rota, indo por Remanso, Petrolina, Cabrobó e Salgueiro.  E foi assim que tudo ocorreu pelas minhas lembranças. Claro que teve as horas de dificuldade, de cansaço, de trânsito chato, mas isso tudo compensou pela missão cumprida e pelo sentimento de equipe e união. A Himalayan assim como todas as outras foram e voltaram tranquilas. Aliás me surpreendeu na capacidade de carga e resistência a tudo que passamos.
É isso aí  rapaziada! Se inspirem com estes doidos e animem-se para novas aventuras! Quem fala que a moto não aguenta deve estar falando de sua própria limitação física e mental.