Por Robson Almeida

Aquela foi uma noite muito gelada! Eu sabia que o inverno iria castigar, eu havia consultado a previsão do tempo. Mas assim como um adolescente precisa apanhar no amor pra aprender o que os pais o aconselharam, eu também precisei sentir na pele!

Se você não viu a parte 1 desse relato, segue o link da PARTE 1

Lady Thatcher ficou abrigada e não pegou geada e nem orvalho, mas mesmo assim tive dificuldades para mantê-la funcionando. Parti no kick, ela desligou, parti na elétrica, ela desligou. Comecei a pensar que ela iria me deixar na mão. Mas o que teria acontecido?

Depois de algumas tentativas ela se manteve funcionando. UFA! Mas o acelerador estava preso. Eu acelerava, mas o cabo não enrolava. Era como se tivesse preso. Como eu iria continuar a minha viagem? Pasmem, meus amigos! Depois de muito fuçar, percebi que a borboleta (vou mandar esse nome por que não sei o termo correto) estava congelada! Sim! O cabo não enrolava pois aquilo que parecia uma roldana, onde os dois cabos da aceleração ficam presos estava congelada! Não sei como foi possível concentrar umidade ali, mas o que impedia o cabo era exatamente isso: estava congelado e o cabo não enrolava, a moto não acelerava e eu achei que ia perder a viagem.

Forcei diretamente onde estava preso e liberei a aceleração da moto. Primeira batalha do dia vencida! Bora descer a Serra do Corvo Branco!

Claro que antes de descer, seria preciso subir por uma estrada bem ruinzinha até a famosa fenda. Antes de começar a subir, eu precisei me deslocar por uma área tão gelada, mas tão gelada, que eu cheguei naquele impasse: se eu acelero pra sair daqui, aumenta a velocidade do vento e não vou conseguir continuar – o que vem depois do frio? – e se eu parar pra me aquecer vou ficar mais tempo ali e vou padecer igualmente. Pensei em parar em alguma propriedade e pedir ajuda, tal era o meu desespero! O verdadeiro “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.”

Nunca havia sentido isso (ainda não sei o que vem depois do frio)! A luva não segurou a onda do frio. O casaco era o único item que estava me mantendo aquecido. Já a calça… peço que as damas me perdoem, caso venham a ruborizar com o que vou dizer, mas se rirem ficarei satisfeito. Foi a primeira vez que achei que o saco ia congelar! Isso era o que mais me preocupava, por que meu amiguinho foi preterido e não recebeu a devida proteção. Encolhia tanto, mas tanto que me parecia que de apêndice, estava sendo rebaixado a asterisco! Não desejo isso a ninguém!

Apenas com a força de vontade e um pouco de consciência de que eu tinha que sair daquele vale (a grama estava branca e o vento contra), me superei e cheguei na primeira parte da subida, naquela suave curva pra esquerda que tem no início do aclive. Parei ali mesmo. Tinha um modesto raio de sol naquela área. Desliguei a moto, tirei a luva e fui roubar o calor do motor. Tive cuidado para não deixar muito tempo em contato e queimar a mão, já que estava dormente. Ao sentir que estava voltando à minha dignidade, peguei meu cantil que estava cheio de rum e o bebi. Foram 350 ml de bebida goela abaixo. A orelha esquentou e me surpreendeu que não teve embriaguez. Vi que poderia continuar. Continuemos a subir!

Na subida encontrei um rider, acho que nos seu 50tões bem vividos, na sua BMW 1200 e devidamente protegido do frio. Conversamos já na fenda da rocha (não tirei foto por que a cerração ainda não havia se dissipado) e o ouvi dizer, bastante transtornado, que o aquecedor de manopla daquela moto não servia de nada, além de outras queixas… Pensei se deveria falar pra ele que 30 minutos atrás eu estava ficando sem saco, mas imaginei que eu contribuiria melhor se apenas ouvisse. Dito e feito. Com a queixa já registrada, montou na sua máquina e desceu a serra. Desci em seguida. Nos encontraríamos de novo em Braço do Norte e no Mirante da Serra do Rio do Rastro.

 

O resto foi só alegria! Desci o Corvo e subi a SRR. Mas ainda faltava muito pro meu ride!

Para não saturar o leitor amigo com textos longos, que pra mim está sendo divertido pois estou praticamente revivendo a viagem, me comprometo a continuar a minha viagem a partir de Bom Jardim da Serra, onde parei pra almoçar e peguei a Rota dos Cânions.

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