Meu nome é Fabio Fontoura e tenho 50 anos, sou gaúcho mas vivo em Garopaba/SC. Comprei minha Royal Enfield Himalayan em março de 2019 e me apareceu a vontade de pegar a estrada. Já sonhei muito com o Deserto do Atacama e agora vou realizar este sonho com minha Hima.

Minha viagem até Montevidéu se deu por três motivos:

1º – Não tiro férias a alguns anos e precisava espairecer.

2º – Para ver como a moto se comporta em longos trechos e carregada.

3º – Para saber como me sentiria viajando sozinho (não achei parceiro ainda para ir ao Deserto do Atacama).

 

 O resultado foi gratificante e percebi que posso sim, ir sozinho e talvez até se torne uma jornada mais tranquila e melhor. Já estive no Uruguai muitas vezes e resolvi aproveitar a viagem para conhecer novos lugares como a ponte de Laguna Garzon que é uma obra fantástica, e novas rutas pelo interior do País.

 

Saí de Garopaba dia 29/05/19 um pouco atrasado, quase meio-dia, por motivos de trabalho e fiz o primeiro trecho de 354 km até Palmares/RS. No caminho entrei em Torres que é a primeira cidade do RS para quem sai de Santa Catarina pela BR-101. Comprei uma roupa de chuva, pois o tempo prometia chuvas torrenciais. Neste trajeto o consumo da moto foi de 20,41 km/l. Depois de pesquisar na FAQ do El Bando os relatos do Bressan sobre o consumo da Hima dele e sobre as gasolinas oferecidas no Brasil, adotei a DT Clean da Ipiranga como combustível principal e consegui abastecer no Brasil sempre com esta gasolina. Cheguei em Palmares do Sul pelas 18h e já fui procurar um hotel com garagem.

 

No dia seguinte saí do hotel em Palmares as 7:15h, tendo como destino a fronteira com Uruguai a uma distância de 523 km. Na fronteira temos a cidade chamada Chuí do lado Brasileiro, e Chuy do lado Uruguaio. Neste trajeto tomei um certo susto com o combustível porque dois postos que eu havia mapeado estavam fechados. Acabei tendo que comprar gasolina em um mercadinho de beira de estrada, por precaução, porque faltavam apenas 50 km até a balsa que atravessa de São José do Norte para Rio Grande/RS. Chegando em Rio Grande enchi o tanque pois no próximo trecho, que atravessa a reserva do Taim, a distância entre postos de combustíveis aumenta muito. Neste trecho entre Palmares e Rio Grande a moto fez incríveis 27 km/l, com certeza porque andei em velocidades mais moderadas para poupar gasolina.

 

As 13h embarquei na balsa e após entrar no Taim me surpreendi com a quantidade de capivaras mortas na beira da estrada. Contei mais de 30 animais atropelados. A quantidade de capivaras vivas que se via nos campos ao lado da estrada também foi alarmante. O pior momento foi um grande susto de passar por uma capivara em pleno asfalto, situação que poderia ter causado um acidente. A chuva apertava, e devido aos radares eu estava a 80km/h então consegui frear e desviar do bicho.

 

Cheguei ao Chuí por volta das 18h, completando neste momento 857 km percorridos desde a partida. Enchi o tanque no último posto brasileiro e providenciei a carta verde para poder entrar no Uruguai na manhã seguinte bem cedo. Depois de alojado em um hotel com garagem e de banho tomado, fui até a cidade vizinha (Chuy) para tomar uma Patricia (cerveja) e comer um pancho. Neste último trecho de Rio Grande a Chuí a moto fez 23,08km/l e tudo estava perfeito. O amor por ela só aumenta.

 

Na manhã seguinte saí do hotel em Chuí as 7:30h, tomei um café em um posto de gasolina e me dirigi a aduana para entrar no Uruguai. Os guardas aduaneiros me pediram os documentos e logo já rodearam a moto pra perguntar sobre ela. O papo foi bom, mas eu estava querendo chegar em Montevidéu cedo para visitar a loja da Royal Enfield e andar nas novas bicilíndricas de 650cc.

 

Depois de um trecho muito legal de 340 km pela Ruta 9, onde fui parando para apreciar algumas paisagens e até mesmo as lindas pastagens onde se cria gado da raça Hereford, cheguei em Montevidéu lá pelas 14h. A capital do Uruguai é uma das cidades mais lindas e limpas que já visitei. Moraria lá facilmente, é tudo organizado, povo educado e com paisagens muito bonitas. Me perdi pelas ruas da cidade até achar a loja da Royal Enfield, onde se vendem motos de várias marcas. Passei algumas horas lá conversando sobre peças e sobre as vendas (em dois anos não venderam duas dezenas de Himalayan) e me falaram que a perspectiva de venda das bicilíndricas é bem maior que da Hima. Fiquei muito empolgado com a volta no quarteirão que dei na Continental GT de 650 cilindradas. Moto fantástica e bem acabada.

 

Lá pelas 17h me toquei para Maldonado, que fica a uns 50Km da capital no sentido norte, para montar acampamento. A noite fria de 4 a 5 graus, e sem colchonete, me fez passar um bom tempo sem dormir. Neste trecho pela Ruta 9 (Chuy/Montevidéu), abasteci pela primeira vez com gasolina uruguaia. A moto ficou acelerada, com quase 2000 giros em marcha lenta, o que dificultava o engate da primeira marcha. Mas depois de estar rodando não notei muita diferença.

 

As 5:30h de sábado me levantei, passei um café e fui ver o sol nascer. Eu estava congelando, mas ver o amanhecer foi lindo. Parti para estrada já voltando de Montevidéu e fui a Punta del Este conhecer a Casa Pueblo, la mano, a ponte em declive e todos os outros pontos turísticos da cidade. De Punta del Este segui pela “La Rambla!”, a avenida beira-mar que passa por toda a península de Punta del Este, margeando tanto a orla do Rio da Prata quanto a do Oceano Atlântico. Fui até José Ignácio, onde temos a nova ponte de Laguna Garzon que é uma obra incrível e virou um ponto turístico. A partir daí começou o esperado off-road. Estradas pelo interior do Uruguai rumo ao Chuy, sempre ladeadas de paisagens fantásticas, com muitos bovinos e algumas florestas. Nesta estrada encontrei muitos ciclistas de vários países da Europa e da América Central. Depois de alguns quilômetros de estradas de chão voltei para a Ruta 9 e fui parando em algumas praias para fotografar. Então rumei em direção a Fortaleza de Santa Tereza, que fica na cidade de Castillos,

 

Passei algumas horas ali matando a saudade e depois me dirigi para o Chuí, pois lá eu já sabia que teria o hotel com garagem fechada assim não precisaria descarregar a moto. Em terras Uruguaias a moto fez 23,61 km/l sempre abastecendo nos postos ANCAP onde tem bons lanches e internet livre.

 

 

Na manhã seguinte acordei as 7h e fiz a maior distância da viagem (657 km) de Chuí a Torres no Rio Grande do Sul. Rodei até as 19h, sendo que no final de tarde peguei uma chuva intensa. Consegui concluir este trajeto porque usei um barco para fazer a travessia da Lagoa dos Patos e adiantei uma hora em relação a balsa. Em Torres, me hospedei na fazenda Passos dos Anjos, de um grande amigo cuja amizade já tem mais de 40 anos. Ele estava me esperando com churrasco e um mate bem cevado. Na manhã seguinte fiz meu último trecho até minha residência em Garopaba.

 

Foi uma bela experiência! Paisagens incríveis e muita paz. Sem pressa, sem rodar a noite (somente o necessário), sem ter que programar ou combinar nada com ninguém. Tudo de livre e espontânea vontade. Enfim, estou pronto para encarar o Atacama sozinho se for preciso, mas ainda vou buscar parceria por motivo de segurança.

 

DESPESA DE HOSPEDAGEM: No lado Brasileiro, nos hotéis de beira de estrada paguei de R$ 90,00 a R$ 130,00 as diárias sempre com garagem. No lado Uruguaio os valores sobem, em torno de U$ 70 e U$ 100. Passei uma noite no camping e me custou 270 pesos uruguaios que é equivalente a 30 reais com banho maravilhoso e “seguridade”.

DESPESAS DE ALIMENTAÇÃO: No Brasil gastei por dia mais ou menos R$ 50,00 com jantar e lanche ao meio dia + água e alguma guloseima. Já no Uruguay acabei gastando mais pois a culinária me encanta com suas carnes, molho pesto, pancho (cachorro quente) e o famoso dulce de leche! Gastava em torno de R$ 80,00 reais diários com os milanesas (bife à milanesa e batata frita) e com as parrillas (churrasco). Para se ter uma idéia o valor de uma parrilla para uma pessoa, com salada, pães e a carne que você escolhe o pedaço custava 380 pesos Uruguaios, o equivalente a R$ 41,80.

 

 

A MOTO: A Himalayan a cada dia me surpreende mais, pois comprei a moto por telefone com aval do Bressan sobre a confiabilidade da moto e de depositar o valor para concessionária sem nem conhecer os caras. Primeiro foi a ciclística gostosa, depois a robustez e a força, e por fim os valores de peças e manutenção. Agora com esta experiência de 2415Km, fiquei surpreso com o conforto e a segurança que a moto me passa carregada, mesmo na chuva intensa. Não fiquei cansado ou com dores em nenhum momento e isto me faz relevar o consumo que me parece elevado. A média geral foi de 23 km/l e a velocidade de cruzeiro foi 110 km/h com algumas esticadas a 120 km/h.  Talvez esta velocidade e o peso, seja a causa deste consumo. O valor da gasolina uruguaia é praticamente igual a gasolina brasileira, alguns centavos a mais, mas para a minha moto ela se tornou uma gasolina pior, pois a aceleração aumentou bastante, o que dificultava o engate da primeira marcha e o barulho do motor também aumentou … acho que os aditivos são diferentes.

Para não dizer que minha Hima não tem nenhum problema, ela voltou do Uruguai com o barulho chato do aro do farol e um meladinho do lado direito do motor, mas nada que me preocupe, pois já tive muitas motos e sei bem quando devemos nos preocupar.

Bom, foi um imenso prazer compartilhar com vocês estes momentos e espero poder compartilhar outros em breve. Você pode ver as fotos desta aventura no meu instagram: @himalayandofabiof. 

 

Abraços,

Fabio Fontoura