Me aventurei no coração do Pantanal Mato-grossense com minha Royal Enfield Classic 500 na Estrada Transpantaneira, Rodovia MT-060, ou simplesmente a Transpantaneira.
Esta estrada de chão com mais de 120 pontes sendo muitas de madeira, corta o Pantanal do Mato Grosso ligando a pequena cidade de Poconé ao distrito de Porto Jofre, já na divisa com Mato Grosso do Sul, e tem quase 150 quilômetros e é um dos grandes atrativos turísticos da região.
O que tornou o trajeto mais desafiador é que não há qualquer infraestrutura, ou seja, tem que levar tudo consigo, mas tudo mesmo e para isso, contei com a companhia dos Cavaleiros do Pantanal e do Moto Grupo Renovados. É essencial sair de Poconé com tanque cheio e combustível sobressalente, pneus em dia e kit de reparo além de ferramentas já que não há postos de combustível, borracheiros ou mecânicos disponíveis. Além disso, se você decidir encarar a aventura pantaneira até Porto Jofre pela Transpantaneira, leve recursos para providenciar sua alimentação pois não há restaurantes caso decida acampar como eu fiz.
A viagem pela Transpantaneira não começou para mim de Poconé! Parti de Cuiabá, cidade a cerca de 105 quilômetros de Poconé. Da capital de Mato Grosso, as estradas são asfaltadas e estão bem cuidadas mas, existem alguns buracos e todo o cuidado é pouco. De Poconé, iniciamos nossa aventura parando no Pórtico da Transpantaneira, um verdadeiro cartão postal de Mato Grosso.
Não se esqueça de tirar uma foto no pórtico da estrada, hein! Aí, a partir do Pórtico da Transpantaneira é que você terá que redobrar a atenção.
Você pode estar se perguntando por que essa estrada em particular deva ser conhecida e ainda rodando de Royal Enfield Classic 500, não é mesmo? A pergunta tem uma simples resposta: a Transpantaneira é extraordinária porque corta o pantanal. As planícies alagadas às margens da rodovia são o verdadeiro habitat de jacarés, capivaras, garças, veados, gaviões, martins-pescador e outros animais da selva.
Se você escolher visitá-la no período da seca, que se estende de abril a novembro, vai dar de cara também com araras e tucanos no céu mato-grossense. Porém, quando atravessei, o fiz no ápice das queimadas e presenciei uma verdadeira operação de guerra para combater as chamas e socorrer animais mobilizando a sociedade civil e órgãos dos governos municipal, estadual e federal. O Pantanal foi severamente atingido por queimadas que destruíram mais 15% de sua cobertura vegetal: são quase 2,2 milhões de hectares queimados, o que corresponde a quatro vezes o tamanho do Distrito Federal e chega perto do tamanho do estado de Sergipe.
Segui por uma reta interminável mas na verdade, existe a sensação de que é uma reta, mas não é, a gente tem a companhia da planície praticamente seca e de animais amontoados nos pequenos resquícios de água que ainda resistiam. Nas cheias, com mais espaço para nadar e com alimento abundante, os animais ficam mais dispersos e não formam os grandes grupos normalmente vistos no auge da seca.
Quem vai ao Pantanal sempre tem a expectativa de avistar onças, ainda que o objetivo seja a pesca, porém, nem sempre isso é possível. São animais arredios e raramente são flagrados na natureza, mas em Porto Jofre, onde os avistamentos são a partir de barcos, e não de safári, como no Pantanal Sul, essa não é uma missão difícil, pelo contrário.
Para fazer o percurso da Transpantaneira é preciso de planejar. Escolher a época certa, cuidar da motocicleta e definir onde ficar hospedado serão algumas das etapas importantes do seu planejamento. Mas, a ótima notícia é que é tudo muito fácil de organizar. Sem complicações, você vai poder aproveitar mais e gastar menos.
A estação das chuvas vai de outubro a março e favorece os passeios de barco. Neste período, é lama e uma Himalayan vai tirar de letra, lógico, com muita aventura não é mesmo? Como fui na seca, e que seca gente, minha Classic 500 atravessou tranquilamente e não tive qualquer problema por ser uma Squadron Blue, se for uma Battle Green, tome cuidado. Ops, brincadeirinha! Na seca, que vai de abril a setembro, as estradas ressurgem e os veículos de passeio transitam sem problemas. É nesta época que animais aparecem mais frequentemente na beira dos rios.
Pilote com tranquilidade na Transpantaneira e aproveite para tirar fotos dos animais. Nas margens da rodovia é possível ver pássaros, jacarés e muitos outros bichos – e, claro, eles atravessam na frente da motocicleta sem avisar. Portanto, pilote devagar e seja cuidadoso para não atropelar nenhum animal!
Em todo o percurso encontrei dezenas de pontes de madeira e algumas em péssimo estado de conservação ou completamente consumidas pelo fogo e as piores começam a partir do quilômetro 60 da rodovia. A Transpantaneira teve muitas áreas afetadas e algumas pontes ficaram severamente comprometidas. Portanto, antes de confirmar sua motoviagem, é importante se informar sobre as condições da região. Isso é importante porque muitos passeios foram suspensos e, com as queimadas ativas quando atravessei, havia risco para a saúde respiratória.
Por fim meu caro Royal Rider, percorrer os 150 km da Transpantaneira será perfeito para conhecer a paisagem da região. Tudo à volta é enriquecido por uma variadíssima biodiversidade, um banquete para os sentidos. Somadas, as espécies de mamíferos, aves, peixes e répteis ultrapassam mil, e o maior ícone entre elas é a onça-pintada. Essa fauna habita cenários com recortes de Floresta Amazônica, Caatinga, Cerrado, charco e Mata Atlântica.
Perfeito para mototuristar, não é mesmo? Bora?